Escuto Lennine e o que isso produz em mim é mais ou menos o mesmo que acontece quando mergulho nos escritos de João Cabral, poeta, engenheiro das palavras. Escritos tão fotográficos...A manga madura que emana cheiro em um verso. Literatura e música. Para mim nada mais gêmeo. Lennine e Cabral, um pedaço de Pernambuco na minha vida. E se é pra falar de laços e ligações pernambucanas, lembro de Chico Science e uma paixão quase carnal por esse menino do mangue. A música penetra em mim e não consigo soltar as teclas, assim como se quisesse através disso, aprisionar o momento, o sangue agitando, abrindo a mala dos pensamentos recordações... “Meu corpo remexe sem se perguntar por que?”. É Leninne abrindo com música esse branco da tela.
“Que sejam belos livros luminosos os nossos sonhos de nação”.
Meu primeiro contato com Lennine foi em 1998, no som do carro de um amigo, a mídia e metade do Brasil se quer imaginavam que logo viria mais um ícone da música direto da terra de Capiba e Alceu, de Brennan e sua arte de plena de adjetivos. Era um CD com outro músico que não lembro o nome agora. O CD se chamava “Olho de Peixe”. Nessa época a fita cassete ainda fazia festa na minha vida e eu gravei e passei dias com aquele som na cabeça. Hoje depois de muitos outros deliciosos Cds, ele me aparece com força num DVD, num dia de faxina aqui em casa, dia de música alta.
“ Eu sou mameluco, sou de casa forte, eu sou Pernambuco, sou o leão do norte... Sou banda de pífanos no meio do canavial, a folia que desce lá de Olinda, sou de Pernambuco ê!”. Esse é Lennine, que como Chico Science trouxe pra dentro da música, signos que só quem é pernambucano ou quem já andou por lá, pode compreender. Mas com um ritmo tão rico, ninguém precisa entender nada, só sentir. Deixo um pedaço dessa canção poesia cantada por Lennine e Julieta Venegas, para quem nesse momento anda pisando no medo:
“O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é uma força que não me deixa andar...
Tenho medo de exigir e medo de deixar
O medo é uma sombra que o temor não desvia
O medo é uma armadilha que pegou o amor
El miedo es una fuerza que me impide andar
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo
O medo é de Deus ou do Demo?
O medo é a medida da indecisão
Medo de se arrepender
Medo de perder a vez
Medo...Que da medo que medo que dá!”