segunda-feira, 1 de agosto de 2011


O que cabe dentro de mim hoje
é somente uma saudade seca,
difícil descer goela a dentro.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O casamento da vida com o tempo

Que em 2011 a vida nos beije na boca, com beijo de língua mesmo, daqueles bem sem vergonha. Que o tempo chegue leve como uma brisa e faça amor com a nossa agenda, sempre tão apressada. Vamos pegar o tempo pela mão e carinhosamente convidá-lo a bordar horas mais iluminadas, mais criativas e amorosas. Que essa lua-de-mel entre vida, tempo e agendas dure as quatro estações de 2011. Que as nossas listas sempre tão imensas de promessas, seja apenas uma: Ser feliz! Começando desde já!
Obrigada pelo carinho de todos que sempre andam por aqui.

domingo, 26 de setembro de 2010

É saudade então...



Saudade é uma coisa muito estranha. Para começar é uma palavra que não existe tradução. É coisa de brasileiro mesmo, assim como essa mania de furar fila ou adorar queijo e goiabada. Não que saudade seja um sentimento restrito aos que nasceram aqui no Brasil. Falo da palavra mesmo. Mas voltando ao sentimento...São tantas as características que identificam a saudade que eu prefiro dizer que existem categorias da mesma. E a que tenho sentido ultimamente talvez seja o pior tipo. Saudade estimula encontros, comunicação, poesia, choro de alegria ou tristeza...A saudade empurra a gente para algum lugar físico ou manda ficarmos quietos dentro de si, até passar um pouco.

Tem saudade que nunca acaba, pois não temos para onde ligar, nem a pessoa está ali na lista do MSN, nem existe um caminho que nos mostre um encontro. Parece saudade de quem já partiu lá para cima, mas pensando melhor, essa é uma saudade também, daquelas pessoas que amamos um dia e passaram na nossa vida e perdemos o elo. Quem nunca recorreu às ferramentas da tecnologia atual como sites de busca e de relacionamento, para encontrar alguém que passou e se perdeu no fio da vida? Não encontrar dá um vazio...Mas o maior vazio mesmo é saber que o seu objeto de saudade não poderia mesmo ser encontrado em nenhum lugar físico, nem mesmo no ciberespaço e suas praças modernas.

Essa saudade que me invadiu nos últimos tempos me faz imaginar diálogos que nunca tive com meu pai, que não mora mais nesse mundo. Lembro do último telefonema onde sua felicidade era notória, mas também recordo das muitas viagens que fizemos no seu fusca. Durante muitos anos, eu e minhas duas irmãs dividíamos o espaço apertado do banco de trás com algumas caixas, quando viajávamos. Meu pai era daqueles que paravam na estrada pra ajudar quando via alguém em apuros por um pneu furado ou um desses probleminhas típicos de estrada. Dirigia sempre calado e de fundo colocava Luis Gonzaga pra cantar...São muitas lembranças dessa e de outras épocas de convivência. Deve ser porque se aproxima o dia da minha viagem a terra natal. Depois que ele se foi, passei a ir ali ainda menos, mas agora que estou mais distante, sinto uma grande necessidade voltar láá mais vezes, ver o sol se pôr por trás da chapada do Araripe, olhar minhas bonecas na estante como se sorrissem pra mim, rever pessoas boas, sentir a energia forte das minhas raízes e voltar com a alma lavada, pronta para de novo recomeçar mais um ciclo.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010


Eu já fui mais fiel a escrita. Sentava quase todos os dias e travava a velha guerra entre caneta e papel branco. As vezes sinto medo que essas horas façam uma viagem pra nunca mais voltar, assim como fez a poesia. Convivo com tantas frases soltas na mente...Vão fazendo uma procissão e formando parágrafos, no entanto a mão já não pára tanto pra ouvir. Digo a mim mesma que é uma fase. Ando talvez, concretizando as palavras em arte com linha, como alguém ja me tranquilizou aqui. Hoje vou deixar Clarice Lispector falar por mim, como muitas vezes falou. Hoje estou lembrando de 2006, um ano em que nadei em dúvidas, mas ousei pular sem pára-quedas num abismo e fui acolhida pela mão divina que se extende aos que não tem medo de tentar.

"Entregar-me ao que não entendo será pôr-me a beira do nada.Será ir apenas indo, como uma cega perdida num campo. Essa coisa sobrenatural que é viver. O viver que que eu havia domesticado para torná-lo familiar".

quinta-feira, 9 de setembro de 2010


Ela passou o dia inteiro de asas murchas, assim sem desejos de vôos. Uma angustia ecoando por dentro, nem de música lembrou hoje, só resquícios da conversa de ontem. Frases soltas puxando o pensamento para um lado escuro, sem ar. O dia passou arrastado e silencioso. Uma visita no meio da tarde! Nem isso conseguiu tirá-la do labirinto de ecos. A tarde passou sem freios enquanto ela tentava organizar as atividades e trazer de volta a serenidade. Quando os últimos raios de sol se foram, ela decidiu levar seu corpo pequeno para dar passos por essa cidade ainda tão misteriosa, cheia de esquinas e pessoas apressadas. Um café para aquecer o frio que chega devagar e um doce que sempre a faz mais alegre.

Levar o corpo para passear é também fazer a alma respirar e a dela precisava disso hoje. Voltou para casa com sacolas e com passos lentos, sentindo o vento dessa noite de inverno. Ela sente uma imensa vontade de ter uma varinha de condão com uma estrela na ponta pra pedir um desejo: Que a alegria e a serenidade façam parte das horas da sua mãe, cansada que brincar de Polliana e os outros acreditarem.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

E a faxina virou post!


Escuto Lennine e o que isso produz em mim é mais ou menos o mesmo que acontece quando mergulho nos escritos de João Cabral, poeta, engenheiro das palavras. Escritos tão fotográficos...A manga madura que emana cheiro em um verso. Literatura e música. Para mim nada mais gêmeo. Lennine e Cabral, um pedaço de Pernambuco na minha vida. E se é pra falar de laços e ligações pernambucanas, lembro de Chico Science e uma paixão quase carnal por esse menino do mangue. A música penetra em mim e não consigo soltar as teclas, assim como se quisesse através disso, aprisionar o momento, o sangue agitando, abrindo a mala dos pensamentos recordações... “Meu corpo remexe sem se perguntar por que?”. É Leninne abrindo com música esse branco da tela.

“Que sejam belos livros luminosos os nossos sonhos de nação”.

Meu primeiro contato com Lennine foi em 1998, no som do carro de um amigo, a mídia e metade do Brasil se quer imaginavam que logo viria mais um ícone da música direto da terra de Capiba e Alceu, de Brennan e sua arte de plena de adjetivos. Era um CD com outro músico que não lembro o nome agora. O CD se chamava “Olho de Peixe”. Nessa época a fita cassete ainda fazia festa na minha vida e eu gravei e passei dias com aquele som na cabeça. Hoje depois de muitos outros deliciosos Cds, ele me aparece com força num DVD, num dia de faxina aqui em casa, dia de música alta.

“ Eu sou mameluco, sou de casa forte, eu sou Pernambuco, sou o leão do norte... Sou banda de pífanos no meio do canavial, a folia que desce lá de Olinda, sou de Pernambuco ê!”. Esse é Lennine, que como Chico Science trouxe pra dentro da música, signos que só quem é pernambucano ou quem já andou por lá, pode compreender. Mas com um ritmo tão rico, ninguém precisa entender nada, só sentir. Deixo um pedaço dessa canção poesia cantada por Lennine e Julieta Venegas, para quem nesse momento anda pisando no medo:


“O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é uma força que não me deixa andar...
Tenho medo de exigir e medo de deixar
O medo é uma sombra que o temor não desvia
O medo é uma armadilha que pegou o amor
El miedo es una fuerza que me impide andar
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo
O medo é de Deus ou do Demo?
O medo é a medida da indecisão
Medo de se arrepender
Medo de perder a vez
Medo...Que da medo que medo que dá!”

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Fera, bicho, anjo...Mulher


No inicio dos tempos ser mulher era ser deusa, pois se pensava que o poder que o sexo feminino tinha de gerar a vida era mérito somente dela, vindo de um poder imaculado dado somente à fêmea. Durante séculos reinamos absolutas desde o fim do período paleolítico ao princípio da idade do bronze. O propósito da deusa era simples: O cultivo da terra aportando os meios materiais e espirituais para uma vida em perfeita harmonia. Não existia submissão por parte do mais frágil, nesse caso, o homem. Nessa época o lema era “eu sou de todo mundo e todo mundo me quer bem”, como aquela canção pegajosa dos Tribalistas.

Um belo dia alguém descobre que o macho também é protagonista na fecundação. A deusa foi retirada do pedestal e depois de tal descoberta, o mundo passou a ser masculino. O sêmen era o verdadeiro Deus da criação e símbolos fálicos passaram a ser adorados. A força da ira masculina por ter se sentido enganado, fez com que surgissem as relações de poder extremante autoritárias entre macho e fêmea. O mundo fecha as cortinas para a deusa e abre para o herói-guerreiro.

Essa é somente uma pequena parte da longa história das relações entre os sexos na terra, ainda tem uma longa jornada até a queima dos sutians em praça pública. Falo desse fato porque para boa parte das mulheres do mundo, esse também foi um divisor de águas, ainda que bem menos drástico. A nossa história feminina me faz lembrar, não me pergunte o porquê, a dos felinos. Admirados e exaltados numa época e abominados em outra, depois queridos de novo, mas que até hoje cultivam uma dose do preconceito humano, assim como os pombos...Mas isso é uma outra história.

Repassando o enredo das minhas ancestrais, não me cabem dúvidas de que sempre fui desse time, desde o principio. Costumo dizer que em todas as encarnações fui mulher. É algo muito forte dentro de mim. Consigo me ver Deusa, bruxa perseguida, mulher tuareg seguindo as sombras do deserto, cigana em volta do fogo. Tenho dezenas dentro de mim e é nesse caldeirão de tipos que renasço a cada vida. Nessa em que habito com meus olhos grandes e mãos pequenas, cabem todas sem exceção. Talvez por isso, por ser um pouco de cada uma das que acredito ter sido, eu não me sinta confortável em mundos pequenos, aqueles onde não se possa espreguiçar e ter a liberdade de voar e voltar ou fazer ninhos em lugares diferentes e me sentir em casa em cada um deles.

Nessa vida já fiz ninhos em diversos lugares. Acho que os ninhos são feitos não de móveis e concreto, mas de alguma substância etérea como hálito de anjos e perfume de borboletas. Os ninhos são aqueles lugares onde costumamos suspirar de relaxamento, prazer ou beleza. Conservo até hoje meu ninho na casa da minha mãe...Uma rede armada no jardim de inverno. Na minha infância também tive ninho num galho de uma árvore, adorava aquele refúgio, principalmente na época das seriguelas. Nunca entendi a ligação que minha avó fazia entre comer a fruta quente pelo sol e crises de garganta que poderíamos ter, mas em todo caso, esperava esfriar para comê-las.

Falar de mulher é falar de ninho. Mas as palavras já me fogem e eu fico a pensar nos homens. Quantos desejariam descobrir o que é ter esse ninho e toda carga que isso traz para nossa vida, nem que fosse por um dia.