quinta-feira, 24 de setembro de 2009

para ler ouvindo flamenco...

Pesquisando no google, desenhos sobre flamenco, me vejo absorta num tempo que já amarelou velhas fotos. Um tempo em que existiam cadernos de sonhos e duas amigas ávidas por chão e letras. Amigas que escolhiam o destino abrindo livros que nem sagrados eram. Um tempo vivido, amado, chorado e escrito em terra espanhola. Decidimos conhecer Granada depois de abrir aleatoriamente o guia da Espanha. Éramos duas loucas na calçada de um convento em Salamanca entregando ao livro os nossos próximos passos, pois não tínhamos medo do destino e a vida era engolida em grandes goles, como deve ser na juventude.

A música agora me leva de volta a Granada. Eu pisei em solo Andaluz num dia de junho de 1998. Cheguei de trem, vindo da Estación Sans em Barcelona. Fazia pouco tempo que havia amanhecido e o dia ainda trazia aquela nevoa das primeiras horas. A estação pequena e o ar bucólico me deram certeza de pisar forte naquele novo lugar. Terra moura que aprendi amar em tão pouco tempo. A primeira surpresa foi avistar neve nos picos da Sierra Nevada. Para mim que vinha de terras tão áridas, ver os inúmeros tons de neve, mesmo que tão distantes, me encheu de surpresa e alegria.

Em pouco tempo eu já via as ruelas de Granada da janela do quarto. Uma pensão para moças bem no centro da cidade, construída em 1928. Hoje pesquisando na Internet vejo foto da velha pensão que agora virou um simpático hotel. Olhando as fotos do hotel, posso ouvir meus passos no taco do corredor, abrindo a maçaneta da porta do banheiro coletivo. Essa caixa que temos chamada memória acende ou apaga tantas vontades... Paco de Lucia me desviou da minha tarde de costura e me levou de volta a Andaluzia por alguns momentos...E lá estou subindo as ladeiras de Albaicin apreciando os jardins suspensos das casas brancas de Granada.


Minha amiga descansa em algum beco do céu e deve ainda escrever alguns versos no seu caderno de sonhos. Eu aqui vagueio com pernas bambas numa saudade sem peso, mas com muita cor, como as inúmeras mandalas que pintamos enquanto percorríamos a Espanha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário