sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Mulher rasteirinha eu? Será?


Ela saiu de casa decidida em cima do seu saltinho. A idéia era amaciar os sapatos quase novos, usados apenas um par de vezes, para depois adotá-lo como do dia-a-dia. A tarefa pareceu-lhe fácil até digamos, metade do caminho. Não sei porquê depois de usar um salto considerável durante o casamento ela fantasiou um 2010 visto mais de cima. A empolgação foi tanta que o último que comprou era ainda mais alto. Talvez beirando o limite que seu corpo consegue o tal equilíbrio classudo, porque não tem coisa mais feia do que uma mulher de salto agulha caminhando como se estivesse com a virilha assada.

O roteiro de hoje era uma consulta ao oftalmologista e um happy hour que não aconteceu. Voltou para casa já com os pés falando mais do que a cabeça. Parou na igreja pra falar com Aparecida, velha companheira de rezas. Dali seguiu pelo caminho de sempre, enfrentando os seis ou oito longos quarteirões, que nunca pareceram tão longos. Uma voz interna dizia com sarcasmo: Força na canela querida!

A cada passo ela pensava nas havaianas, mas também percebeu que os homens a olhavam mais. Pensava: Será que é verdade isso do peito crescer e a bunda também? Sei lá! Ao chegar no inicio da sua rua imaginou uma crônica e apressou o passo para não só cair nas teclas, mas principalmente livrar os pés daquela arma de dor e de sedução. Em casa já aliviada devorando uma tortinha de maça com chá gelado refletiu: Quem nasceu para rasteirinha um dia chega a saltão?

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A menina mais feliz do mundo...



Eu sou a menina mais feliz do mundo
sério mesmo
fizeram uma pesquisa
uma pesquisa com todas as meninas do mundo
não passou na sua cidade
porque só foi nas cidades grandes e realmente importantes
não briga comigo, não fui eu quem inventei a pesquisa
e mediram a felicidade por um termômetro
um que coloca no ouvido
e a medição é por cores
eu fiquei quase empatada com uma menina do japão
a yoko
mas a namorada da yoko não tem os olhos cintilantes como os seus
pelo contrário
é até um pouco vesga
que me desculpem os vesgos
mas a yoko gosta dela mesmo assim
enfim
eu sou a primeira
a mais feliz
e a yoko é a segunda

(Mariana Clark)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Mais chuva...


Quando eu via chuva cair assim sem parar, sempre me lembrava de quando eu era criança e como a chuva na nossa cidade era sinônimo de festa, pois só acontecia pouquissimas vezes ao ano. As vezes era necessário invocar aos céus com música pedindo água. As mulheres se juntavam na igreja pedindo água do céu para as plantações, para não deixar o gado morrer de sede. Chuva na minha infãncia vinha trazendo prosperidade. Crianças brincando na rua, gente grande se misturando, correndo em busca das melhores bicas d´água. Mas o tempo anda estranho e a chuva anda perdendo a poesia. A água tem caído sem parar, sem tempo de parir arte. O homem por trás desse tempo anda querendo pintar o céu como o verdadeiro monstro, quando na verdade é ele o hediondo inconsequente. É o homem que nos faz boiar nessa terra de veias intupidas de concreto.