quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O casamento da vida com o tempo

Que em 2011 a vida nos beije na boca, com beijo de língua mesmo, daqueles bem sem vergonha. Que o tempo chegue leve como uma brisa e faça amor com a nossa agenda, sempre tão apressada. Vamos pegar o tempo pela mão e carinhosamente convidá-lo a bordar horas mais iluminadas, mais criativas e amorosas. Que essa lua-de-mel entre vida, tempo e agendas dure as quatro estações de 2011. Que as nossas listas sempre tão imensas de promessas, seja apenas uma: Ser feliz! Começando desde já!
Obrigada pelo carinho de todos que sempre andam por aqui.

domingo, 26 de setembro de 2010

É saudade então...



Saudade é uma coisa muito estranha. Para começar é uma palavra que não existe tradução. É coisa de brasileiro mesmo, assim como essa mania de furar fila ou adorar queijo e goiabada. Não que saudade seja um sentimento restrito aos que nasceram aqui no Brasil. Falo da palavra mesmo. Mas voltando ao sentimento...São tantas as características que identificam a saudade que eu prefiro dizer que existem categorias da mesma. E a que tenho sentido ultimamente talvez seja o pior tipo. Saudade estimula encontros, comunicação, poesia, choro de alegria ou tristeza...A saudade empurra a gente para algum lugar físico ou manda ficarmos quietos dentro de si, até passar um pouco.

Tem saudade que nunca acaba, pois não temos para onde ligar, nem a pessoa está ali na lista do MSN, nem existe um caminho que nos mostre um encontro. Parece saudade de quem já partiu lá para cima, mas pensando melhor, essa é uma saudade também, daquelas pessoas que amamos um dia e passaram na nossa vida e perdemos o elo. Quem nunca recorreu às ferramentas da tecnologia atual como sites de busca e de relacionamento, para encontrar alguém que passou e se perdeu no fio da vida? Não encontrar dá um vazio...Mas o maior vazio mesmo é saber que o seu objeto de saudade não poderia mesmo ser encontrado em nenhum lugar físico, nem mesmo no ciberespaço e suas praças modernas.

Essa saudade que me invadiu nos últimos tempos me faz imaginar diálogos que nunca tive com meu pai, que não mora mais nesse mundo. Lembro do último telefonema onde sua felicidade era notória, mas também recordo das muitas viagens que fizemos no seu fusca. Durante muitos anos, eu e minhas duas irmãs dividíamos o espaço apertado do banco de trás com algumas caixas, quando viajávamos. Meu pai era daqueles que paravam na estrada pra ajudar quando via alguém em apuros por um pneu furado ou um desses probleminhas típicos de estrada. Dirigia sempre calado e de fundo colocava Luis Gonzaga pra cantar...São muitas lembranças dessa e de outras épocas de convivência. Deve ser porque se aproxima o dia da minha viagem a terra natal. Depois que ele se foi, passei a ir ali ainda menos, mas agora que estou mais distante, sinto uma grande necessidade voltar láá mais vezes, ver o sol se pôr por trás da chapada do Araripe, olhar minhas bonecas na estante como se sorrissem pra mim, rever pessoas boas, sentir a energia forte das minhas raízes e voltar com a alma lavada, pronta para de novo recomeçar mais um ciclo.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010


Eu já fui mais fiel a escrita. Sentava quase todos os dias e travava a velha guerra entre caneta e papel branco. As vezes sinto medo que essas horas façam uma viagem pra nunca mais voltar, assim como fez a poesia. Convivo com tantas frases soltas na mente...Vão fazendo uma procissão e formando parágrafos, no entanto a mão já não pára tanto pra ouvir. Digo a mim mesma que é uma fase. Ando talvez, concretizando as palavras em arte com linha, como alguém ja me tranquilizou aqui. Hoje vou deixar Clarice Lispector falar por mim, como muitas vezes falou. Hoje estou lembrando de 2006, um ano em que nadei em dúvidas, mas ousei pular sem pára-quedas num abismo e fui acolhida pela mão divina que se extende aos que não tem medo de tentar.

"Entregar-me ao que não entendo será pôr-me a beira do nada.Será ir apenas indo, como uma cega perdida num campo. Essa coisa sobrenatural que é viver. O viver que que eu havia domesticado para torná-lo familiar".

quinta-feira, 9 de setembro de 2010


Ela passou o dia inteiro de asas murchas, assim sem desejos de vôos. Uma angustia ecoando por dentro, nem de música lembrou hoje, só resquícios da conversa de ontem. Frases soltas puxando o pensamento para um lado escuro, sem ar. O dia passou arrastado e silencioso. Uma visita no meio da tarde! Nem isso conseguiu tirá-la do labirinto de ecos. A tarde passou sem freios enquanto ela tentava organizar as atividades e trazer de volta a serenidade. Quando os últimos raios de sol se foram, ela decidiu levar seu corpo pequeno para dar passos por essa cidade ainda tão misteriosa, cheia de esquinas e pessoas apressadas. Um café para aquecer o frio que chega devagar e um doce que sempre a faz mais alegre.

Levar o corpo para passear é também fazer a alma respirar e a dela precisava disso hoje. Voltou para casa com sacolas e com passos lentos, sentindo o vento dessa noite de inverno. Ela sente uma imensa vontade de ter uma varinha de condão com uma estrela na ponta pra pedir um desejo: Que a alegria e a serenidade façam parte das horas da sua mãe, cansada que brincar de Polliana e os outros acreditarem.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

E a faxina virou post!


Escuto Lennine e o que isso produz em mim é mais ou menos o mesmo que acontece quando mergulho nos escritos de João Cabral, poeta, engenheiro das palavras. Escritos tão fotográficos...A manga madura que emana cheiro em um verso. Literatura e música. Para mim nada mais gêmeo. Lennine e Cabral, um pedaço de Pernambuco na minha vida. E se é pra falar de laços e ligações pernambucanas, lembro de Chico Science e uma paixão quase carnal por esse menino do mangue. A música penetra em mim e não consigo soltar as teclas, assim como se quisesse através disso, aprisionar o momento, o sangue agitando, abrindo a mala dos pensamentos recordações... “Meu corpo remexe sem se perguntar por que?”. É Leninne abrindo com música esse branco da tela.

“Que sejam belos livros luminosos os nossos sonhos de nação”.

Meu primeiro contato com Lennine foi em 1998, no som do carro de um amigo, a mídia e metade do Brasil se quer imaginavam que logo viria mais um ícone da música direto da terra de Capiba e Alceu, de Brennan e sua arte de plena de adjetivos. Era um CD com outro músico que não lembro o nome agora. O CD se chamava “Olho de Peixe”. Nessa época a fita cassete ainda fazia festa na minha vida e eu gravei e passei dias com aquele som na cabeça. Hoje depois de muitos outros deliciosos Cds, ele me aparece com força num DVD, num dia de faxina aqui em casa, dia de música alta.

“ Eu sou mameluco, sou de casa forte, eu sou Pernambuco, sou o leão do norte... Sou banda de pífanos no meio do canavial, a folia que desce lá de Olinda, sou de Pernambuco ê!”. Esse é Lennine, que como Chico Science trouxe pra dentro da música, signos que só quem é pernambucano ou quem já andou por lá, pode compreender. Mas com um ritmo tão rico, ninguém precisa entender nada, só sentir. Deixo um pedaço dessa canção poesia cantada por Lennine e Julieta Venegas, para quem nesse momento anda pisando no medo:


“O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é uma força que não me deixa andar...
Tenho medo de exigir e medo de deixar
O medo é uma sombra que o temor não desvia
O medo é uma armadilha que pegou o amor
El miedo es una fuerza que me impide andar
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo
O medo é de Deus ou do Demo?
O medo é a medida da indecisão
Medo de se arrepender
Medo de perder a vez
Medo...Que da medo que medo que dá!”

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Fera, bicho, anjo...Mulher


No inicio dos tempos ser mulher era ser deusa, pois se pensava que o poder que o sexo feminino tinha de gerar a vida era mérito somente dela, vindo de um poder imaculado dado somente à fêmea. Durante séculos reinamos absolutas desde o fim do período paleolítico ao princípio da idade do bronze. O propósito da deusa era simples: O cultivo da terra aportando os meios materiais e espirituais para uma vida em perfeita harmonia. Não existia submissão por parte do mais frágil, nesse caso, o homem. Nessa época o lema era “eu sou de todo mundo e todo mundo me quer bem”, como aquela canção pegajosa dos Tribalistas.

Um belo dia alguém descobre que o macho também é protagonista na fecundação. A deusa foi retirada do pedestal e depois de tal descoberta, o mundo passou a ser masculino. O sêmen era o verdadeiro Deus da criação e símbolos fálicos passaram a ser adorados. A força da ira masculina por ter se sentido enganado, fez com que surgissem as relações de poder extremante autoritárias entre macho e fêmea. O mundo fecha as cortinas para a deusa e abre para o herói-guerreiro.

Essa é somente uma pequena parte da longa história das relações entre os sexos na terra, ainda tem uma longa jornada até a queima dos sutians em praça pública. Falo desse fato porque para boa parte das mulheres do mundo, esse também foi um divisor de águas, ainda que bem menos drástico. A nossa história feminina me faz lembrar, não me pergunte o porquê, a dos felinos. Admirados e exaltados numa época e abominados em outra, depois queridos de novo, mas que até hoje cultivam uma dose do preconceito humano, assim como os pombos...Mas isso é uma outra história.

Repassando o enredo das minhas ancestrais, não me cabem dúvidas de que sempre fui desse time, desde o principio. Costumo dizer que em todas as encarnações fui mulher. É algo muito forte dentro de mim. Consigo me ver Deusa, bruxa perseguida, mulher tuareg seguindo as sombras do deserto, cigana em volta do fogo. Tenho dezenas dentro de mim e é nesse caldeirão de tipos que renasço a cada vida. Nessa em que habito com meus olhos grandes e mãos pequenas, cabem todas sem exceção. Talvez por isso, por ser um pouco de cada uma das que acredito ter sido, eu não me sinta confortável em mundos pequenos, aqueles onde não se possa espreguiçar e ter a liberdade de voar e voltar ou fazer ninhos em lugares diferentes e me sentir em casa em cada um deles.

Nessa vida já fiz ninhos em diversos lugares. Acho que os ninhos são feitos não de móveis e concreto, mas de alguma substância etérea como hálito de anjos e perfume de borboletas. Os ninhos são aqueles lugares onde costumamos suspirar de relaxamento, prazer ou beleza. Conservo até hoje meu ninho na casa da minha mãe...Uma rede armada no jardim de inverno. Na minha infância também tive ninho num galho de uma árvore, adorava aquele refúgio, principalmente na época das seriguelas. Nunca entendi a ligação que minha avó fazia entre comer a fruta quente pelo sol e crises de garganta que poderíamos ter, mas em todo caso, esperava esfriar para comê-las.

Falar de mulher é falar de ninho. Mas as palavras já me fogem e eu fico a pensar nos homens. Quantos desejariam descobrir o que é ter esse ninho e toda carga que isso traz para nossa vida, nem que fosse por um dia.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Todo mundo tem o que contar


Eu sempre adorei ouvir estórias, desde criança quando minha mãe contava as aventuras dos “Três porquinhos”, a coragem e sofrimento de “João e Maria”. Ouvia e era como se entrasse nelas. Ficava ali olhando para as telhas da casa, ouvindo o barulhinho da rede balançando, até pegar no sono. Eu não me importava em ouvir a mesma estória várias vezes, acho que desde cedo aprendi que algumas delas valem a pena serem ouvidas infinitamente, assim como aquelas estórias de travessuras engraçadas que toda mãe conta e mata a gente de rir num domingo, onde já estamos adultos.

Escuto atenta às estórias que me chegam, muitas vezes busco-as e para ser sincera tem um tipo particular que adoro ouvir, como um casal se conheceu, por exemplo. É uma pergunta que me persegue. Fico ouvindo e o filme começa a passar na cabeça, aí vem de novo um desejo estranho de escrevê-las, reuní-las em um caderno. Aí me pergunto, mas para que isso? Quem vai ler? Com isso a idéia vira ventania e só renasce quando escuto uma outra estória e assim vai sendo. Outro dia pesquisando na Internet encontrei o Museu da Pessoa, uma experiência incrível que convido todos a conhecer para saborearem estórias de pessoas anônimas, mas tão cheias de vida. Um dia prometo não deixar o vento levar minha idéia de escrever estórias dos outros, ai vai nascer um caderno, um blog, site, livro, sei lá, e não importa se alguém vai ler! Um dia hei de escrever o que me contam.Tenho amigas que terão um capítulo inteiro, de tantas estórias que merecem serem escritas.

Veja o site do museu da pessoa:

http://www.museudapessoa.com.br

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Novos ângulos...


As pessoas estão acostumadas com suas vidas, de conquistas iguais, tarefas iguais, diversões e problemas sempre iguais. Ouvir-nos dizendo que podemos ser livres, amar, ir além do tempo e zombar desta realidade, faria com que se sentissem roubadas porque elas não tem isso.

Todos vivem muito fixados em si, e por estarem doentes de serem tão cheios de si, esperam muito dos outros. Com os que agem assim , é claro que há mais decepção do que alegria...depois de muita decepção, começam a esperar sempre o pior, as desconfianças vem em primeiro lugar, testam-se uns aos outros...isso é apenas gastar tempo, mas é isso que chamam de amor, preocupação, ódio, cuidado, carência...

Quase ninguém muda para enriquecer sua existência ou para ser apresentado a um nível mais profundo de ser. Tudo que ocorre na intimidade de nossa alma, nos recantos mais longínquos dos nossos sonhos, estende-se ao mundo externo e, de alguma maneira, transparece. Do mesmo modo situações externas podem estender raízes por nosso interior, encontrar eco em desejos ainda escondidos e silenciosos e nos modificar.

Com sopros do Livro Noturna -Ana Claudia Domene

terça-feira, 24 de agosto de 2010



Para onde irão os cães ao morrerem? Eu não sei, mas acredito que viajam correndo por uma trilha iluminada para um lugar bem lindo, onde um dia encontrarão com seus donos e amigos. Acredito nesses reencontros...Ontem o Jimmy(da foto) foi para esse lugar esperar por todos que aqui o amam.

terça-feira, 17 de agosto de 2010


Hoje eu apelei para as folhas amareladas onde se escondem velhos versos.Catei um e aqui jogo nesse branco.Um traço de mim encontrado num poema de 99.

Nascer
Nascer de novo
Nascer quantas vezes for preciso
Romper com gosto a placenta da vida
Lamber o sal e
ser gente pela milésima vez
Tentadores os caminhos da imortalidade.

Micheline

sábado, 14 de agosto de 2010


Hoje vou postar algo de galeano, um dos meus escritores ''mestres'' preferidos. No Livro dos Abraços, o escritor fala dos sonhos de Helena em pequenos parágrafos durante boa parte do livro. As vezes sou Helena catando sonhos, tecendo bordados neles para ficarem mais bonitos...as vezes sou um dos sonhos em fila, esperando ser sonhado...

OS SONHOS DE HELENA

"Naquela noite, os sonhos faziam fila, querendo ser sonhados, mas Helena não podia sonha-los todos, não dava. Um dos sonhos, desconhecido, se recomendava:

- Sonhe-me, vale a pena! Sonhe-me, que vai gostar.

Faziam fila alguns sonhos novos, jamais sonhados, mas Helena reconhecia o sonho bobo, que sempre voltava, esse chato e outros sonhos cômicos ou sombrios que eram velhos conhecidos de suas noites voadoras.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Minha história de amor com as pedras

Enquanto não paro para escrever sobre o novo, posto textos antigos retirados de um velho blog que estou desarrumando.Textos que indubitavelmente ainda fazem parte do que sou.




Olho a foto de Machu Pichu assim como se as montanhas tivessem encrustadas não só na parede da minha sala, mas dentro de mim mesma. O que tem pra me dizer essa cidade morta? O que são esses sonhos caóticos estampando minhas noites? Essas ruínas que caminho sem direção, tentando resgatar um passado o qual não domino, o qual se quer recordo.

Limpo os cristais da estante, penso em presenteá-los com uma fonte. Difícil recordar a primeira vez que catei uma pedra. Talvez tivesse uns 9 anos, dali em diante virei colecionadora.Tinha pedras de todas as cores, formas e tamanhos. Meu pequeno guarda roupa virou um verdadeiro depósito de caixas repletas de pedras. Um dia minha mãe deu o ultimato: Ou joga pelo menos a metade fora ou eu mesma faço.

Olhar uma a uma e escolher quais ficariam foi uma tarefa angustiante.Talvez eu como os incas, já desde a infância acreditasse que dentro de cada rocha existisse um espírito, uma identidade...Havia uma comunicação sutil entre eu e aquelas pedras. Talvez uma sombra do que acreditei numa outra vida, ou quem sabe um traço presente dos meus antepassados.

Desde então carrego pedras comigo. Em cada lugar especial que passo, cato uma de recordação. Tenho um profundo respeito por esses minerais. Dentro de um saquinho vindo de Machu Pichu, guardo as runas, 25 pedras (de São Tomé das Letras) conselheiras e companheiras de círculo, formam minha fortaleza energética em noites enevoadas e mal assombradas. Guardam consigo meus cantos e danças, além da temperatura exata das minhas lágrimas, sejam de tristeza ou de agradecimento.

Se esse amor mineral pulsa tão intenso dentro de mim, só pode ter um sentido.Trilhas para um portal de comunicação entre meu passado e presente, mapas incompletos que vão se mostrando devagarinho, de acordo com a minha fé. Deixa eu ir cantar pra elas...

Cuiabá- MT 12.11.99

sábado, 7 de agosto de 2010

Estou na revista Make!




A Samariquinha, marca criada por mim em 2006, aos poucos vem ganhando seu espacinho, tudo bem devagar, como meus bordados à mão.Esse mês saiu uma foto do meu trabalho na Revista Make- Arte e design para o bem viver.É apenas uma pequena foto com o meu contato, mas já estou bem orgulhosa.Quem tiver a chance de ver a revista, com certeza vai se apaixonar pelo bom gosto da publicação

quarta-feira, 4 de agosto de 2010


Estar perto de livros exerce um fascínio imensurável ao meu ser.É como se aquela redoma formada pelas prateleiras abrisse um túnel e ali, envolta às letras e ao cheiro de papel eu me sentisse plena. Sempre digo que assim como as paisagens do mundo, existem livros demais e não poderei lê-los nem ir ao encontro de todos esses lugares, pois uma vida é pouco para percorrer todos os mapas que guardo em meu desejo de trilhar e os milhares de livros que adoraria ler.

Entrar numa livraria é um momento que me preenche, pois ali rodeada de literatura, me vejo cheia de encantamento. Posso ficar horas, mesmo que não compre nada, ali é meu parque de diversões. O apetite pelas palavras escritas tem sido maior do que meu desejo por chocolate ultimamente. Ler me leva por entre caminhos que jamais percorrerei com meus pés, ler me mostra paisagens que nunca verei, pois muitas, se quer existem. Ler me faz querer escrever, sempre! E minha escrita tem sido um hiato depois que entrei no mundo de agulhas, linhas e retalhos. A escrita só se concretiza quando palpita em mim algum desejo mais forte de vida, ou uma dor.

Queria mais disposição e dedicação às letras, mas entendo que a literatura só nasce de parto natural, sem hora ou data, também aprendi que a poesia pode ficar adormecida durante anos, assim como dorme em mim. Um dia quem sabe depois de madurar no meu ser, ela renasça, como a semente mais antiga da terra que plantada germinou e se mostra de um verde incrível. Enquanto isso vou alimentando meu espírito de livros, mas também se faz necessário dizer que livros costurados, aqueles que estão ali no canto sem nunca serem abertos, não tem lugar no meu mundo. Guardo apenas àqueles que me chamam a uma releitura, seja de um trecho ou inteiro depois de um tempo. Livros fechados por muitos anos não têm vida, é como o caminho que só existe quando é percorrido.O melhor a fazer é doar para que outros leitores dêem vida aos mesmos, já que a literatura só tem sentido quando compartilhada.

P.S:Estou lendo Princesa -A história real da vida das mulheres árabes por trás de seus negros véus. De Jean sasson.

sábado, 31 de julho de 2010



De uma coisa fiquem certos
não adianta colocar uma cancela
imaginando que o amor estará seguro
não adianta represa
quando o sentimento deseja ir embora
vai tão forte e violento como água de afluente
penetrando no mar.
o encanto se vai feito via de mão única, sem retorno
A vestimenta do amor é um alvará de soltura
impresso em negrito
quando o amor olha disfarçado para o portão aberto
é sinal de que as suas malas já estão prontas.


Roubei esses versos de uma grande amiga poeta Rachel Alves.

quarta-feira, 28 de julho de 2010


Tem dias que me parece extremamente necessário ler um poema. Um não. Vários!É uma fome hedionda de palavras soltas...nesses dias me alimento de Mário Quintana e sinto minha alma alcalmar, sentar num galho de árvore, como na infância na fazenda do meu bisavô. Só com a alma quieta, ainda em transe, consigo voltar para os meus fragmentos de textos, reler o que escrevi, respirar fundo e seguir desenhando mais um mapa desse dia.

sexta-feira, 16 de julho de 2010


"A melodia interna é a que os governa.
Tudo mais, em verdade, são ruídos".


Roubando Drummond para descrever minha confusão interna.Uma briga de hormônios, fantasias e realidades nessa tarde de inverno gelada, onde nenhum chá é capaz de abrandar o frio dessa alma.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Sobre minha paixão por literatura infantil poucos sabem. Sou capaz de passar horas na sessão infantil da livraria. Ali encontro a menina que mora em mim, a mesma que brincava de mulher maravilha com uma toalha amarrada no pescoço, a mesma que subia em árvores, brincava de circo e brigava no futebol. Essa menina que mora em mim de vez em quando sopra ao meu ouvido, versões infantis de histórias reais, mescladas com camadas de ficção, como essa abaixo.




Uma história de fadas I


Era uma vez um menino que caminhava pelo mundo colecionando borboletas. Ele não acreditava em fadas, era um caçador que viajava por todos os cantos do planeta, alguns diziam que até na China ele já tinha pisado. Caça, mas nunca matou uma borboleta sequer. Guarda todas num imenso viveiro imaginário de flores, onde lá dentro mora até um arco íris.

Contavam pela floresta que ele trazia no braço um escorpião negro. Devia ser algum talismã. Mas o que o caçador fazia com um sorriso era o que todos mais comentavam. Diziam que tinha um sorriso de estrelas. Isso mesmo! De estrelas. Era luz de uma constelação inteira e isso atraia todo tipo de borboletas, até as que ele não enxergava beleza. O caçador já tinha perdido a conta de quantas borboletas havia caçado ao longo da vida.

Também diziam que ele não acreditava em fadas. O caçador costumava dizer que esses seres não existem porque não podem sair dos livros infantis. Todos da floresta conheciam pelo menos uma fada, no entanto o homem estava seguro que em seu caminho só borboletas e flores fazem o colorido. As borboletas o alertavam lembrando que, para aqueles que não acreditam em fadas, o verdadeiro amor nunca irá cruzar o caminho. Ele ria inundando o verde da floresta de luz.

Numa dessas viagens viu sair de uma ventania, uma luz muito forte e ele nem estava sorrindo. O mar estava bem perto e a lua minguante brilhava no céu. Naquela mesma noite o caçador decidiu seguir a luz que o levou até uma cabana no meio do mato. Ali, em cada janela havia uma mandala pintada e de manhã quando o sol entrava, as mil cores invadiam o ambiente. Há histórias que contam que quem dormia ali naquela cabana ficava pra sempre preso dentro de uma mandala. Diziam que os rastros que as fadas deixavam eram: mandalas, cheiro de incenso e perfume de jasmim. Mas como o caçador não dava ouvidos a esse tipo de lenda e muito menos acreditava em fadas, entrou e foi tomado por um sono incrível...terminou dormindo em poucos minutos, assim como se a alma tivesse descansado, sem desejos de encontros. Ele só queria chegar até o mar e lembrar de um tempo em que a vida parecia mais leve.

segunda-feira, 28 de junho de 2010




“A felicidade só é real quando compartilhada”.

A frase é do filme Na Natureza Selvagem (2007, mas que só assisti há poucos dias). Não me lembro de quando um filme obteve similar efeito sobre mim. O filme mostra a história de Chris McCandless, um garoto que desistiu de toda sua vida estável para fazer uma viagem em busca da liberdade e acabou descobrindo muito da essência da humanidade.Ao ler essa frase ele decide fazer o caminho de volta. Assista ao filme. Leia o livro. Ouça a trilha sonora belíssima (composta por Eddie Vader (vocalista do Pearl Jam). Não porque um é melhor do que o outro, mas porque nas suas diferenças incrivelmente se complementam.
Depois passe aqui para me contar como foi a sua experiência pós filme.

sexta-feira, 18 de junho de 2010



Olho para o céu como quem espera uma flecha cair entre os dois olhos para abrir de vez uma janela nova na retina. Não para olhar lá fora, pois os olhos grandes já vêem demasiado. Abrir ali, um terceiro olho a fim de ver o que se esconde no infinito interno que ilumine os recantos escuros que insistem em esconder as pistas. Essas coisas escondidas de mim e que não as posso ver, a noite se transformam em loucas sonâmbulas de camisolas, não sossegam com comprimidos, se misturam a escuridão e criam um abismo intransponível. Chamo os anjos, ancestrais, santos que seguram flores, bichos...E o silêncio continua ali, cortando com ponta afiada meus fragmentos de mapas.

domingo, 13 de junho de 2010

Uma página de 2007


O nosso canto fica escondido entre grandes avenidas, guardado entre diversas ruas que abrigam árvores de flores. Coisa encantadora, mágica sob o concreto dessa terra meio cinza. A rua me faz lembrar aquela canção: "Se essa rua fosse minha...eu mandava ladrilhar com pedrinhas de brilhante". Não tem asfalto, é cheia de jardins e no fim da tarde ainda tem orquestra de maritacas. Ali os beija-flores se encontram em festa e na minha janela um convite para virem me visitar. Tem um ou dois sagüis que passeiam pelos fios, entre as castanholeiras, além de Sam* e Garfield, os gatos mais lindos da rua, que passeiam pelas casas, como se em cada uma tivessem um elo. São de todos, mas preferem o jardim e o sossego da casa da Jacir, nossa vizinha de frente.

A cidade ferve nos arredores, no entanto naquele pedaço que mais lembra cidade do interior, reina um silêncio quebrado apenas por alguns carros que insistem ter pressa, ou o carro da pamonha, vendendo o puro creme do milho, o caminhão das frutas na sexta feira no fim da tarde, ou o velhinho italiano na sua bicicleta antiga, oferecendo seus serviços de faz-tudo: amola facas, concerta panelas...Essas coisas que quase não se ver no burburinho da cidade grande.

Tem dias que a rua parece agradecer a calma e chama um vento para derrubar as pétalas rosadas das flores no alto das árvores. O chão parece um tapete e muitos nem percebem a beleza desse momento. Agora que o outono começou a mostrar sua exata temperatura, tudo fica ainda mais bucólico. Olho pela janela, sinto o vento frio e meu desejo é tomar um café e ficar bem perto dos meus cachorros, sentindo o quentinho de suas barrigas, em contraste com o frio de seus focinhos. Quero ficar assim o dia todo, até que a noite chegue e traga um abraço e a promessa de mais um fim de semana de vinho e amor pra esquentar meu primeiro outono na terra da garoa.

*Sam, um dos gatos sumiu há quase dois anos, não se sabe o que aconteceu com o mesmo, segundo algumas pessoas da rua, alguém se encantou com sua beleza e o levou daqui. Os saguis também desapareceram há uns meses...no fim da rua sumiram 6 casas e agora vai aparecer um predio moderno e alto.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Puxando a sardinha pra minha lata



Gente! Eu fui entrevistada por um site de moda e arte muito bacana do Rio de Janeiro e aproveito esse meu espaço aqui para divulgar meu trabalho e o site das meninas Lu e Cris, que têm um texto delicioso.Passem lá e deixem suas impressões!

http://duasmodaearte.wordpress.com/2010/05/28/samariquinha-uma-poesia-para-os-olhos/

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Desejo...



Hoje eu queria ser olhada com aquela fúria da primeira vez que os olhos se cruzam sem interferência...Aquele momento em que o silêncio anuncia que não há mais nada a dizer e o momento mergulha num abismo sem palavras

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Mais de mim!




Fui entrevistada no blog Baú de Idéias, da jornalista de Joinvile, Michelle Nunes, convido a todos a dar uma passadinha por lá para me conhecer um pouquinho mais de mim!
http://wp.clicrbs.com.br/baudeideias/?topo=84,2,18,,,84

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Para não descer do salto nem em dia de temporal


Instalação do artista plástico belga Paul Schietekat...Ah, o meu´eu já escolhi...Vermelho.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Coisas de Caio...



Pertencia àquela espécie de gente
Que mergulha às vezes sem saber por que
Não sei se na esperança de decifrá-las ou se
Apenas pelo prazer de mergulhar.

Caio Fernando Abreu

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Quando o amor quebra ovos...


O amor também exige que no dia-a-dia saibamos transformar os ovos quebrados pelas palavras duras, em um delicioso e lindo omelete.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Porque hoje é dia de iemanjá...



Aqui deixo umas flores em pensamento para aquela que sempre foi uma fada madrinha, minha querida mãe do mar...Iemanjá.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Mulher rasteirinha eu? Será?


Ela saiu de casa decidida em cima do seu saltinho. A idéia era amaciar os sapatos quase novos, usados apenas um par de vezes, para depois adotá-lo como do dia-a-dia. A tarefa pareceu-lhe fácil até digamos, metade do caminho. Não sei porquê depois de usar um salto considerável durante o casamento ela fantasiou um 2010 visto mais de cima. A empolgação foi tanta que o último que comprou era ainda mais alto. Talvez beirando o limite que seu corpo consegue o tal equilíbrio classudo, porque não tem coisa mais feia do que uma mulher de salto agulha caminhando como se estivesse com a virilha assada.

O roteiro de hoje era uma consulta ao oftalmologista e um happy hour que não aconteceu. Voltou para casa já com os pés falando mais do que a cabeça. Parou na igreja pra falar com Aparecida, velha companheira de rezas. Dali seguiu pelo caminho de sempre, enfrentando os seis ou oito longos quarteirões, que nunca pareceram tão longos. Uma voz interna dizia com sarcasmo: Força na canela querida!

A cada passo ela pensava nas havaianas, mas também percebeu que os homens a olhavam mais. Pensava: Será que é verdade isso do peito crescer e a bunda também? Sei lá! Ao chegar no inicio da sua rua imaginou uma crônica e apressou o passo para não só cair nas teclas, mas principalmente livrar os pés daquela arma de dor e de sedução. Em casa já aliviada devorando uma tortinha de maça com chá gelado refletiu: Quem nasceu para rasteirinha um dia chega a saltão?

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A menina mais feliz do mundo...



Eu sou a menina mais feliz do mundo
sério mesmo
fizeram uma pesquisa
uma pesquisa com todas as meninas do mundo
não passou na sua cidade
porque só foi nas cidades grandes e realmente importantes
não briga comigo, não fui eu quem inventei a pesquisa
e mediram a felicidade por um termômetro
um que coloca no ouvido
e a medição é por cores
eu fiquei quase empatada com uma menina do japão
a yoko
mas a namorada da yoko não tem os olhos cintilantes como os seus
pelo contrário
é até um pouco vesga
que me desculpem os vesgos
mas a yoko gosta dela mesmo assim
enfim
eu sou a primeira
a mais feliz
e a yoko é a segunda

(Mariana Clark)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Mais chuva...


Quando eu via chuva cair assim sem parar, sempre me lembrava de quando eu era criança e como a chuva na nossa cidade era sinônimo de festa, pois só acontecia pouquissimas vezes ao ano. As vezes era necessário invocar aos céus com música pedindo água. As mulheres se juntavam na igreja pedindo água do céu para as plantações, para não deixar o gado morrer de sede. Chuva na minha infãncia vinha trazendo prosperidade. Crianças brincando na rua, gente grande se misturando, correndo em busca das melhores bicas d´água. Mas o tempo anda estranho e a chuva anda perdendo a poesia. A água tem caído sem parar, sem tempo de parir arte. O homem por trás desse tempo anda querendo pintar o céu como o verdadeiro monstro, quando na verdade é ele o hediondo inconsequente. É o homem que nos faz boiar nessa terra de veias intupidas de concreto.