segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009




A última vez que perdi o emprego parei numa loja de sapatos e me deixei seduzir por um saltinho cor de pêssego. Lindo, sexy e desconfortável. Devo ter usado umas três vezes, sofrendo, mas mantendo a pose. Esse par passou anos comigo intocável, sobreviveu até a uma mudança de cidade...Deixei um monte de caixas para trás. Não sei porque ele veio.Talvez eu me visse num pretinho básico pelas noites de Sampa, no entanto ele nunca saiu da caixa. Em novembro do ano passado, perdi mais um emprego e não sei porque finalmente me livrei daquele maldito sapato, assim como estou me livrando de diversas outras coisas não palpáveis, mas que tinham um peso enorme.

Ainda não me dei um presente, como sempre me dou quando estou desempregada ou quando sinto que mereço e posso comprar. Já andei pensando sobre o assunto, mas atualmente só penso em tecidos, botões, linhas e derivados. Outra coisa que gosto de mergulhar é literatura. Gosto da textura dos livros, os cheiros, as dobraduras parecem chamar minhas mãos. Acho que mereço um bom livro, apesar de uns dez, me esperarem na estante ainda virgens. Ando pelas prateleiras com olhos e ouvidos bem abertos. É que os livros me chamam, falam comigo. Livraria é o meu bordel, gosto de ir sozinha e sem hora para voltar. Preciso desses momentos de deleite com os livros.

Mas acho que dessa vez o meu presente verdadeiro está sendo mesmo a reflexão profunda a qual essa situação me brindou. Estou imersa até agora farejando dentro de mim “verdades combustível”. Aquelas que movem os dias e que nos fazem perceber quão valioso é trabalhar com o que se ama de verdade.

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